ElectroScience: Rui Rocha, líder do projecto ISTSAT-1
O ISTSAT-1 cumpriu 6 meses de vida activa no passado dia 9. Rui Rocha, professor do Departamento de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores e investigador do Instituto de Telecomunicações, foi o líder do projecto. Neste âmbito, colocámos algumas questões ao professor de forma a conhecer a evolução da investigação e os principais desafios enfrentados ao longo dos últimos meses.
A missão do ISTSAT-1 é recolher alguma informação (pacotes de dados) enviada por aviões, segundo determinadas condições programadas no subsistema receptor de ADS-B, de forma a avaliar o desempenho desse mesmo receptor.
Rui Rocha, líder do projecto ISTSAT-1
O ADS-B (Automatic Dependent Surveillance-Broadcast) é um sistema de tecnologia de vigilância utilizado para obter informações como a localização, a altitude ou a velocidade dos aviões; a versão via satélite é denominada Space-based ADS-B. Desta forma, o ISTSAT-1 pretende recolher este tipo de dados de forma a validar um sistema simples, que vai a bordo, e que permita contribuir para melhorar o controlo do tráfego aéreo no futuro. Embora até à data ainda não tenha sido possível a detecção de aviões, devido a uma anomalia que não permite a recepção, com estabilidade, dos sinais provenientes do satélite, os investigadores estão a desenvolver soluções para resolver esta questão, permitindo posteriormente avançar para a inicialização do receptor de ADS-B.
Até dezembro, os sinais do satélite eram recebidos em 2 estações terrestres que recebem 2 cópias da telemetria, ou seja da informação enviada pelo ISTSAT-1. Segundo Rui Rocha, este sistema "permite melhorar a taxa de erros através de um algoritmo que combina as 2 informações". O recurso a mais do que uma estação pretende minimizar os erros produzidos na recepção de informação devido à presença de ruído radioelétrico. Na estação do Taguspark, foi detectada interferência com origem num painel publicitário, algo que se mantém inclusivamente após a construção de antenas de recepção gigantes. Neste sentido, a comunicação corresponde a uma das principais dificuldades neste projecto. Por esta razão, os investigadores estão a montar uma a 3.ª estação de rastreio do satélite na propriedade do Engenheiro Victor Silvestre, em Caneças, um local com baixo ruído eletromagnético.
(...) A 3.ª estação, também numa zona de baixo ruído, aumentará a nossa capacidade de processamento da informação do satélite, minimizando o efeito dos erros de transmissão devidos à baixa relação sinal-ruído.
Rui Rocha, líder do projecto ISTSAT-1
As condições adversas no espaço constituem também um desafio. Os efeitos da radiação espacial podem afetar o funcionamento do satélite, mesmo que este se encontre em órbita baixa (a menos de 1.000 km da terra). Rui Rocha destaca o fenómeno South Atlantic Anomaly. Nesta área, o satélite é exposto a níveis mais elevados de radiação ionizante, devido a um aumento do fluxo de partículas energéticas, algo que pode resultar em problemas na comunicação, em danos nos componentes electrónicos ou na degradação de materiais. Para minimizar os seus efeitos, os investigadores desenvolveram técnicas de mitigação que recorrem a combinações hardware-software que entram em acção de forma automática, evitando a utilização de tecnologiaespecífica (radiation hardened SOS/SOI).
Graças à nossa abordagem de automatizar o máximo possível, a recuperação de qualquer anomalia a bordo é feita automaticamente em voo, não necessitando da intervenção da sala de controlo de missão, em Terra, embora possamos fazê-lo desde que se consiga comunicar com o satélite.
Rui Rocha, líder do projecto ISTSAT-1
Rui Rocha esteve envolvido, numa perspectiva de orientação geral, no desenvolvimento dos 5 subsistemas que compõem o satélite (as placas que o constituem): no sistema On Board Computer (OBC), no sistema de gestão de energia (EPS), no sistema de comunicações e armazenamento de dados (COM), no sistema de controlo, tracking e telemetria (TTC) e no sistema de payload, responsável pela recepção de dados da missão (PL). O desenvolvimento dos sistemas OBC, EPS e COM foram directamente orientados pelo professor.
O satélite foi desenvolvido por cerca de 50 pessoas, entre as quais 42 estudantes, muitos deles de engenharia electrónica, do Instituto Superior Técnico. O Técnico, o IT, o INESC-ID e o IDMEC proporcionaram apoio financeiro, através de bolsas e materiais, enquanto a AMRAD, a ANACOM, a Lusospace, a Activespace, o IPQ, a Primetec e Fernando Ferro & Irmão também contribuíram com a disponibilização de serviços.
A presente notícia foi redigida com o Acordo Ortográfico de 1945.