Equipa liderada pelo Professor Rui Rocha prepara-se para colocar o primeiro satélite universitário português em órbita

 Rui Rocha, professor do Departamento de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores (DEEC) do Técnico, investigador no IT e um dos fundadores do IST NanosatLab, explica que “foi um processo que envolveu muita gente, envolveu muito trabalho, várias etapas de ensaios. Há aqui uma aprendizagem muito grande. É conhecimento que fica e que passa entre alunos. Do ponto de vista do ensino tem um impacto tremendo.” Entre estudantes e professores, estima-se terem contribuído ativamente para o projeto cerca de 50 pessoas, tendo sido elaboradas mais de 20 dissertações de mestrado.

A integração final do ISTSat-1, o primeiro CubeSat do Técnico, que é também o primeiro satélite universitário totalmente desenvolvido e fabricado em Portugal, foi realizada na sala limpa do IST NanosatLab, recentemente inaugurada pelo Instituto Superior Técnico e pelo Instituto de Telecomunicações (IT) no campus Taguspark.
Até chegar a este momento, o projeto passou por várias etapas de desenvolvimento, envolvendo muitas horas de trabalho desde que começou o seu caminho em 2017 quando foi um dos projetos escolhidos pela Agência Espacial Europeia (ESA).

O lançamento do ISTSat-1 e dos CubeSats de outras equipas do projeto europeu Fly Your Satellite (FYS!) está previsto para outubro de 2023. O voo será feito à boleia do novo lançador Ariane 6, no seu voo inaugural. “É importante porque é o primeiro voo deste novo lançador, que esperamos seja um agente principal nos futuros lançamentos para a Europa. E o ISTSat-1 será um dos primeiros passageiros deste lançamento”, refere o Dr. Loris Franchi, CubeSat Systems Engineer and Environmental Test Engineer na Redu Space Services / ESA, que assumiu a responsabilidade de supervisionar a integração e os testes funcionais realizados nos dias 9 e 10 de fevereiro.

Loris Franchi começou por ser um aluno que integrou este projeto. Para si, são projetos-chave que alimentam uma aprendizagem importante. “Acredito fortemente que aprender coma prática é crucial na educação. E agora que estou a trabalhar para a ESA e a lidar com muitos projetos como o ISTSat-1, posso confirmar que é fundamental. Temos muitas equipas de estudantes que se inscrevem nesta iniciativa e que estão ansiosos para aprender a construir e, eventualmente, lançar o seu próprio satélite.

A integração final é uma das partes mais críticas, uma vez que um parafuso mais apertado ou o posicionamento errado de um cabo poderá resultar no dano de alguma parte essencial para o funcionamento futuro do satélite. A tensão é grande e “há vários piores cenários”, partilha João Paulo Monteiro, docente no DEEC e responsável pela engenharia de sistemas do ISTSat-1.

Contudo, o ISTSat-1 aprovou em todos os testes funcionais, após a sua montagem final, pelo que seguirá para a fase seguinte. Estes testes incluíram a verificação de vários sistemas fundamentais à operação do CubeSat. Embora seja um processo demorado, a meta vale a pena. “Para mim o que estamos a fazer aqui é engenharia como imaginei quando entrei no Técnico”, partilha João Paulo Monteiro.


Testes na Bélgica, lançamento na América do Sul

Antes do lançamento, o ISTSat-1 seguirá para a Bélgica, onde fará testes de vibração e numa câmara térmica de vácuo, replicando-se o ambiente a que o satélite estará sujeito durante o lançamento e em órbita, respetivamente. “Depois disso, umas das partes mais desafiantes do projeto porque será a conquista do ESA Flight Acceptance Review, onde a equipa terá que defender o seu projeto perante alguns especialistas da ESA, que é difícil de passar, pois são muito atentos aos detalhes, para assegurar o sucesso da missão ISTSat-1 ”, conta Loris Franchi. Depois da verificação de toda a documentação referente aos requisitos de segurança que o ISTSat-1 tem de cumprir para ser lançado com o Ariane 6, o satélite será instalado num contentor que será integrado, na Guiana Francesa, no lançador Ariane 6, em conjunto com outros CubeSats.

É um grande projeto de engenharia, apesar do satélite ser pequeno. Passou por uma série de etapas, tem a chancela da ESA, o que nos obriga a ser rigorosos e seguir um padrão de desenvolvimento bem definido. De alguma forma, faz com que as pessoas que participam no projeto tenham consciência do que é um projeto espacial com este nível de exigência”, sublinha Rui Rocha “. Estou ansioso para que o satélite seja lançado. É o fechar de um ciclo importante.”, assume. Se tudo correr bem, no último semestre do ano, a equipa estará a receber as informações do satélite na estação-terra do campus do Taguspark e a verificar, comparando os dados recebidos com dados de referência, se o satélite cumpre as funções previstas e possui o desempenho esperado. No fundo, se tudo aquilo que sonharam para este projeto, se realizou.

* O projeto teve o suporte financeiro do Técnico, do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores: Investigação e Desenvolvimento (INESC-ID), do Instituto de Telecomunicações (IT), bem como do Instituto de Engenharia Mecânica (IDMEC). Contou também com a participação de elementos do Instituto de Sistemas e Robótica (ISR Lisboa), bem como com o apoio de várias empresas ligadas ao sector.

Mais informação: Podcast “110 Histórias | 110 Objetos” – Episódio 34 – ISTSAT-1: O 1.º Cubesat português

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