ElectroScience: Helena Ramos, coordenadora do projeto RollerPredict

Helena Geirinhas Ramos é atualmente docente do Departamento de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores (DEEC), investigadora no Instituto de Telecomunicações (IT) e coordenadora do projeto RollerPredict – New Paradigm for Tube Bending. Em entrevista ao DEEC, deu a conhecer um pouco do seu percurso, nas diferentes áreas em que tem vindo a desenvolver investigação, incluindo na de instrumentação e medidas e na de técnicas de ensaio não destrutivo.

Começando pelo seu mais recente projeto, o RollerPredict foca-se na utilização de técnicas de ensaio não destrutivo e no recurso a algoritmos de processamento de sinal, para localizar soldaduras. Os ensaios não destrutivos são técnicas utilizadas para inspecionar, avaliar e analisar as propriedades físicas de materiais, ou estruturas sem causar danos ou alterações permanentes no objeto testado. Neste projeto, o objetivo é melhorar o desempenho de máquinas que dobram tubos de aço ou de ligas de alumínio, desenhadas e fabricadas em Portugal, incorporando-as com um sistema capaz de localizar a soldadura dos tubos. Os tubos têm aplicação em inúmeros setores da indústria, desde a produção de para-choques à construção de infraestruturas como oleodutos.

Os testes não destrutivos (TND) são críticos em setores como aeroespacialcentrais elétricas e petróleo, gás e oleodutos  onde a segurança, confiabilidade e integridade de materiais e estruturas são críticas, e onde falhas podem resultar em acidentes graves, perdas financeiras ou danos ambientais.

Helena Ramos, docente do DEEC e coordenadora do RollerPredict

Neste projeto, os investigadores localizam a linha de soldadura dos tubos, que é a zona mais frágil do tubo, para que depois o tubo seja colocado na máquina por forma a que a soldadura se situe na zona sem pressão durante o processo de dobragem do tubo. Neste sentido, os investigadores têm como objetivo produzir um sistema a instalar nas máquinas que dobram tubos com a capacidade não só de localizar estas linhas de soldadura, como alimentar a máquina com o tubo posicionado da forma mais eficaz para o processo de dobragem.

Para já estão a ser desenvolvidos módulos que procuram asalterações no campo eletromagnético provocadas pela operação da soldadura. Mas como são feitos os testes? Helena Geirinhas Ramos explica que os módulos estarão equipados com sistemas de bobinas que criam um campo magnético que origina correntes elétricas no interior dos tubos. Quando existe uma linha de soldadura ou um defeito no tubo, a condutividade do mesmo é alterada, algo que modifica a distribuição das correntes elétricas.  Essa variação é medida e pode ser visualizada através do sistema que vai ser desenvolvido. Depois, o módulo processa os resultados e indica à máquina a melhor posição para o tubo entrar na máquina para ser dobrado.

Helena Ramos realça que este trabalho vai adicionar capacidades únicas às máquinas o que constitui não só uma vantagem para a indústria nacional, contribuindo para o crescimento da economia, como também traz benefícios para o estudantes e investigadores que trambalham no seu grupo, devido à forte ligação com a academia.

No âmbito da investigação e da academia as vantagens também são muito importantes pois [este projeto] dá aos estudantes uma experiência e uma ligação com a indústria, o que lhes abre os olhos a uma nova perspetiva.

Helena Ramos, docente do DEEC e coordenadora do RollerPredict

Na investigação levada a cabo no RollerPredict estão previstas 4 fases. Após a escolha do método, os investigadores estão a estudar que tipo de sensor será mais adequado para a medição das variações do campo eletromagnético. Posteriormente, irão construir o primeiro demonstrador, otimizar a arquitetura do sistema e fazer alguns ensaios de validação. Na última fase, o sistema será adaptado à máquina, sendo também implementado o software de processamento de sinal e controlo de posicionamento do tubo na máquina.

No entanto, o teste não destrutivo não é a única área em que a investigadora se destaca. Após fazer a especialização em energia, tendo também frequentado unidades curriculares relacionadas com microcomputadores e eletrónica durante a licenciatura em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores, Helena Geirinhas Ramos fez o doutoramento com um modelo de histerese para simulação do comportamento de transformadores, com uma parte experimental relevante para validação do modelo, tendo ganho, ao longo do seu percurso, conhecimentos em várias áreas. "As medidas eram feitas com um sistema automático de medidas, que nessa altura era muito inovador", refere. Tendo concluído os estudos envergou pela área de instrumentação e medidas, num projeto que pretendia controlar a poluição da água.

Foquei-me em medidas para estabelecer a qualidade do ambiente, mais propriamente num projeto para avaliar a qualidade da água no estuário do Tejo.

Helena Ramos, docente do DEEC e coordenadora do RollerPredict

Neste projeto, os sensores mediam a qualidade da água através de parâmetros como a condutividade, o pH, a turvação, a temperatura e as percentagens de cádmio e de chumbo. O sistema detetava alterações nos valores, algo que indicava aos investigadores quando era necessário recolher uma amostra da água e proceder à sua análise, de forma a perceber o que estaria a causar poluição.

Além da investigação na engenharia, Helena Ramos desenvolveu também estudos estatísticos sobre a igualdade de género no Técnico e fundou o grupo Gender Balance@Técnico: " foi um assunto que ao fim de estar 10 anos no Conselho Científico do Instituto Superior Técnico considerei muito relevante e no qual poderia contribuir para facilitar a vida das mulheres no IST", refere. Destaca que este grupo surge do facto de os dados estatísticos revelarem uma disparidade na evolução na carreira entre homens e mulheres, existindo a tendência para figuras masculinas ocuparem os cargos de liderança. Além do estudo estatístico, Gender Balance@Técnico tem como objetivo promover o bem-estar no Técnico e incentivar as jovens a vir para o Técnico e a prosseguir investigação nas diferentes áreas da engenharia.

É necessário dar a conhecer a pessoas cada vez mais novas quais são os benefícios que podem tirar da engenharia.

Helena Ramos, docente do DEEC e coordenadora do RollerPredict

Ao longo dos anos, têm sido implementadas iniciativas como o Prémio Maria de Lurdes Pintassilgo e o projeto Engenheiras por um dia, que este ano contou com a participação de Zita Martins, Constança Simões e Rita Santos na resposta a perguntas de crianças entre os 3 e os 6 anos. Desta forma, Helena Geirinhas Ramos destaca não só a importância da diversidade e do contributo de diferentes perspetivas nas equipas de investigação como também a necessidade de motivar as crianças mais novas a cultivarem o interesse na engenharia. Estas iniciativas têm o intuito de combater os estereótipos de género o mais cedo possível, dando a conhecer as especialistas que contribuem ativamente para a inovação e para a melhoria das condições de vida da sociedade em geral e demonstrando que a engenharia é também uma ferramenta que pode ser aplicada aos problemas sociais.

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