DEEC TALK: Dispositivos Eletrónicos Implantáveis para uma Retina Artificial de Alta Precisão

No passado dia 22 de outubro, Dante Muratore, professor auxiliar na Secção de Bioeletrónica da Universidade de Tecnologia de Delft, deu a conhecer parte da sua investigação na área do desenvolvimento de dispositivos eletrónicos para a recuperação da visão de pessoas cegas.
A palestra começou com a apresentação do orador por Sérgio Pequito, Vice-Presidente da Investigação, Desenvolvimento e Relações Externas.

A perda de visão pode ter origem em vários fatores, incluindo a degeneração das células fotorrecetoras, que são responsáveis pela deteção da luz e pela sua conversão em impulsos nervosos, os quais o cérebro interpreta formando imagens. Quando as camadas neuronais mais profundas da retina permanecem intactas, torna-se possível implantar um dispositivo eletrónico com interface bidirecional, um chip, que estabelece ligação entre uma câmara e os neurónios. Desta forma, os neurónios são estimulados artificialmente, minimizando a perda de informação luminosa.
Para realizar esta estimulação artificial, Dante Muratore compara o funcionamento dos neurónios a uma orquestra: para criar música, é necessário conhecer os diferentes instrumentos e como controlá-los. No caso da biologia humana, os investigadores têm de respeitar o código neuronal natural, considerando quantos neurónios é necessário ativar (escala), a precisão com que o chip interage com o sistema (resolução) e a sua adaptação ao tecido nervoso (adaptabilidade), de forma a garantir a eficiência do dispositivo.
Por outro lado, a imagem final depende de quais neurónios são estimulados. Por este motivo, é também necessária a criação de um “dicionário”, que reúne os tipos de resposta ao estímulo dos diferentes neurónios.

Para obter a imagem desejada, é necessário calibrar o sistema, tendo em conta a resposta do tecido nervoso. A calibração BMI (Brain-Machine Interface), utilizada pelo grupo de investigação de Dante Muratore, consiste no processo onde o chip descobre como o tecido neuronal reage aos impulsos elétricos: o chip envia sinais através dos elétrodos, mede e regista a resposta do sistema nervoso. Este processo é repetido até serem encontrados os parâmetros corretos para cada impulso enviado, incluindo frequência, amplitude, duração e localização do estímulo, ou seja, que tipo de elétrodo deve ser utilizado e para que células.
O investigador destacou que é necessário localizar o ponto exato e o momento certo do estímulo, uma vez que, ao estimular neurónios muito próximos, o sistema nervoso pode apresentar respostas inesperadas ou incorretas, comprometendo a criação da imagem pretendida. O planeamento no espaço e no tempo permite evitar sobreposições de estímulos (colisões).

Ao longo da palestra, Dante Muratore abordou ainda temas como as características do sinal e a gestão de energia do chip.
A sessão terminou com algumas perguntas por parte dos docentes presentes.
