Professores Mário Figueiredo e José Bioucas-Dias integram a lista de cientistas mais influentes do mundo
Este ano foram dois os docentes do Departamento de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores que integram a conceituada lista de investigadores mais citados a nível mundial da Clarivate Analytics, divulgada na passada semana. Ao professor Mário Figueiredo, que tem vindo a ser “presença assídua” nos últimos cinco anos, junta-se, na edição de 2018 desta lista, o professor José Bioucas-Dias, que também já havia integrado a mesma no ano de 2015, e que volta agora a repetir o feito.
Foi com “grande satisfação” e “orgulho” que os dois docentes do Técnico receberam a notícia desta nomeação que acima de tudo é um indicador de que “o trabalho desenvolvido por mim e pelos meus colaboradores, colegas e estudantes, tem tido impacto e influência significantes na comunidade científica”, destaca o professor José Bioucas-Dias. Uma ideia seguida pelo professor Mário Figueiredo que aponta como “motivo adicional” para a enorme satisfação que o invadiu quando teve contacto com a lista: “ver o meu colega e amigo José Bioucas-Dias voltar a integra-la, dando-lhe mais uma prova do reconhecimento merecido pelo seu excelente e influente trabalho na área de observação remota”. Apesar de estarem classificados em áreas distintas, Geociências no caso do professor José Bioucas-Dias e Engenharia no caso do professor Mário Figueiredo, os dois docentes fazem parte do mesmo grupo de investigação, o Instituto de Telecomunicações (IT), tendo inclusive já desenvolvido projetos de investigação conjuntos.
Doutorado em Engenharia Eletrotécnica, em 1994, no Técnico, o professor Mário Figueiredo tem-se tornado uma referência mundial na investigação em técnicas computacionais de reconstrução de imagem, aplicável a áreas como a ressonância magnética para diagnóstico médico, ou a imagens de satélite. Os artigos da sua autoria, e que contribuem para a sua presença constante nesta listagem, centram-se no desenvolvimento de algoritmos que permitem resolver problemas de restauração ou reconstrução de sinais e imagens, por exemplo, remoção de ruído, restauração de imagens desfocadas, etc. Com a modéstia que lhe é caraterística – mesmo sendo a quinta vez consecutiva que integra esta listagem-, quando questionado sobre o facto de estar a “influenciar a ciência”, o investigador do IT prefere denominar esta presença assim como “um sinal de reconhecimento pelos pares”. Aliás o “segredo” para esta presença regular é, como confessa o professor Mário Figueiredo, “o mesmo que para qualquer trabalho científico”: “trabalhar em problemas relevantes e que nos fascinem, colaborar com colegas e estudantes e ser intransigente em termos de qualidade, quer do conteúdo científico, quer da apresentação (escrita) das publicações”.
O processamento de imagens multibanda (por exemplo, pares de imagens de radar interferométrico e imagens hiperespectrais), obtidas a partir de satélite ou em laboratório, têm sido, por sua vez, o foco do trabalho do professor José Bioucas-Dias. A investigação conduzida pelo docente tem por objetivo restaurar ou reconstruir imagens com alta qualidade a partir de versões com baixa qualidade, através de algoritmos de processamento. Por exemplo, em aplicações de radar interferométrico, o investigador tem desenvolvido algoritmos que reconstroem mapas 3-D de altitude do terreno a partir de pares de imagens de radar adquiridas por um satélite. No caso das imagens hiperespectrais (imagens com centenas ou milhares de cores), os algoritmos desenvolvidos pelo investigador do IT permitem, por exemplo, verificar que compostos estão no interior de um comprimido, detetar determinadas patologias ou identificar materiais com precisão. “A inovação científica reside fundamentalmente nos modelos usados para formular os problemas de restauração e de reconstrução e nos algoritmos para estimar as imagens originais”, refere o docente.
No total, são 14 os investigadores portugueses nomeados na 2018 Highly Cited Researchers, sendo 4 deles da Universidade de Lisboa, e o facto de dois deles serem do Técnico é, sem dúvida alguma, prestigiante. “A produção científica do Técnico tem vindo a aumentar em quantidade e qualidade e a inclusão de investigadores na lista dos HCRs é também um resultado desta tendência”, frisa o professor José Bioucas-Dias. O professor Mário Figueiredo concorda, mas não esquece todos os outros que não constam da mesma: “há muita outra investigação realizada no Técnico que é de altíssima qualidade e impacto, em alguns casos em posições de liderança a nível mundial, mas que pelas particularidades estatísticas subjacentes ao critério de seleção para HCR não integram esta lista”.
A listagem dos investigadores que estão a influenciar a ciência mundial incide apenas sobre os artigos altamente citados, que representam 1% do que se publica no mundo em 21 áreas científicas. É anualmente elaborada pela Clarivate Analytics, que adquiriu as bases Web of Science e Thomson Reuters e nesta edição inclui apenas cerca de 4000 cientistas, sendo 17 deles vencedores de Prémios Nobel. Como bem lembra o professor José Bioucas “o número e nome dos HCRs aparece normalmente à cabeça dos indicares de desempenho das escolas e é, entre outros, um parâmetro usado na elaboração de ‘rankings’ globais das instituições de ensino superior, nomeadamente o ARWU – Ranking Académico das Universidades do Mundo.