Rui Martins: “Um certo espírito de aventura levou-me a aceitar o desafio”
Rui Martins é docente do Técnico e, desde 1992, da Universidade de Macau, onde ocupa agora o lugar de vice-reitor
Licenciou-se em Engenharia Eletrotécnica pelo Técnico em 1980. Por que decidiu seguir essa área?
Desde miúdo que a eletricidade e as comunicações me fascinavam, pelo que escolhi de forma natural o Técnico, era a escola de engenharia mais prestigiada do país.
Manteve depois o seu percurso académico ligado à Escola…
Entrei no Técnico em 1975 e concluí o curso em 1980, numa fase difícil da vida do país. Não havia muito trabalho e todos pensávamos acabar o curso e ir para a tropa ou para o desemprego. Nessa altura, no entanto, iniciou-se a grande revolução da eletrónica: apareceram os microprocessadores e o nosso era o primeiro em que eram estudados. Em 1980 apareceu um anúncio para recrutar engenheiros e alunos finalistas com conhecimentos de eletrónica. Fui um dos selecionados, e trabalhei em tempo parcial nos últimos 6 meses da licenciatura.
Mas acabou por não se manter no mundo empresarial.
Seria natural a continuação após a conclusão do curso, mas o Técnico começou a recrutar jovens docentes. Candidatei-me e fui admitido como Assistente Estagiário na secção de Eletrónica do DEEC.
Seguiu-se o mestrado e, depois, o doutoramento.
Concluí o primeiro mestrado do DEEC em 1985. A etapa natural a seguir seria o doutoramento, mas estive indeciso entre fazê-lo no Técnico ou fora do país. O meu orientador, o professor José Epifânio da Franca convenceu-me: o importante são as publicações e a competição internacional, e isso pode fazer-se em qualquer lado.
No ano em que concluiu o doutoramento, 1992, passou a ser docente da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Macau (UM). Como surgiu essa oportunidade?
Em abril surgiu um anúncio de recrutamento de professores para a UM. Eu nem sabia que existia aí uma Universidade e respondi ao anúncio por curiosidade. Posteriormente fui contactado e hesitei, mas um certo espírito de aventura, o imaginário do mundo da Língua Portuguesa (que tinha desde que vivi em África), o facto de ter acabado o doutoramento há pouco tempo e o desafio que seria começar de novo num outro local levaram-me a aceitar o desafio.
Como foi a primeira impressão?
A chegada a Macau foi um choque, e não só cultural. A Universidade, muito jovem, estava principalmente dedicada ao ensino, com programas muito recentes, em particular na área de Engenharia. A investigação científica era praticamente inexistente… pensei regressar de imediato a Portugal.
Mas ficou.
Tentei dar o benefício da dúvida ao local. Decidi analisar o programa de licenciatura em Engenharia Eletrotécnica, a Faculdade e a própria Universidade, e escrevi o que considero hoje um dos meus melhores relatórios, “First Impressions, First Proposals”. A sua implementação deu origem ao lançamento de toda a pós-graduação na Universidade. Para além deste relatório, que me permitiu conhecer melhor o ambiente em que estava inserido, também a qualidade dos alunos com que me cruzei levaram-me a ficar e a aceitar o desafio de começar tudo do zero.
A partir daí começou a ocupar lugares de topo dentro da UM: diretor da Faculdade e, desde 1997, vice-reitor da Universidade…
Tudo o resto apareceu por acréscimo, a partir da apresentação do relatório e da tentativa de o colocar em prática. Neste momento sou vice-reitor, com o pelouro da Investigação, mas nunca abandonei o ensino e a investigação.
Em agosto de 2013, aquando da sua reeleição, disse que seriam “cinco anos de trabalho muito complicados”. Que desafios enfrenta a Universidade?
Na altura, a afirmação estava essencialmente relacionada com uma mudança radical da UM para um novo campus, de dimensão vinte vezes superior ao anterior. Teríamos que colocar a funcionar uma “Univercidade”, como costumo dizer, que engloba 80 edifícios e um quilómetro quadrado de extensão. Nos próximos quatro anos teremos de continuar a nossa caminhada para construir uma Universidade de topo a nível mundial. O novo campus constitui apenas o hardware dessa universidade, enquanto o software, constituído pelo seu corpo docente, terá de continuar a ser construído e melhorado ao longo do tempo.
E estão no bom caminho.
Tivemos uma bela surpresa a 1 de outubro, na última edição do Times Higher Education World-Universities Ranking, onde a Universidade de Macau aparece pela primeira vez na posição 287, entre as 300 melhores universidades mundiais. Mas isso vem aumentar ainda mais o grau de exigência que será necessário manter para que a UM possa evoluir nesta área muito competitiva do ensino superior.
Mesmo depois de 22 anos, faz questão de manter uma forte relação com o Técnico. Como?
Os meus alunos passaram temporadas nos laboratórios de investigação do Técnico e há uma colaboração na área da Robótica. No meu caso específico, todas as publicações dos trabalhos que coordeno continuam a incluir a minha afiliação ao Técnico e à Universidade de Lisboa, e considero importante manter no futuro esta ligação. Atualmente, com os meios tecnológicos que estão à nossa disposição as grandes distâncias físicas são apenas aparentes, pois tudo circula à velocidade da luz.
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