ElectroStars: Fábio Dias

Esta semana partilhamos a entrevista a Fábio Dias, que alcançou o pódio no ‘Fraunhofer Portugal Challenge 2025’ e venceu a última edição do Prémio Professor Luís Vidigal.

Fábio Dias, concluiu o Mestrado em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores em 2024. Ao longo do seu percurso no Técnico, foi estudante deslocado, realizou estágios, fez Erasmus, integrou a equipa da TLMoto e foi reconhecido várias vezes pelo seu mérito académico. Em entrevista ao DEEC, partilhou um pouco da sua jornada.

«Eu diria que o que me trouxe o gosto pela engenharia eletrotécnica foi, talvez, a parte do "e de computadores"», destaca. Embora partilhe o gosto pela programação, tendo ponderado enveredar por um curso relacionado com informática, acabou por se candidatar à Licenciatura em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores, no Técnico, como 1.ª opção. Ao longo do curso, o entusiasmo pela eletrónica cresceu, algo também influenciado por José Epifânio da Franca e Marcelino dos Santos, ambos docentes do DEEC, os quais o alumnus realça transmitirem aos alunos a paixão pela área através do ensino.

Sempre gostei da parte dos circuitos, é a grande paixão que tenho pela área [dentro da engenharia eletrotécnica e de computadores].

Fábio Dias, alumnus de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores

Paralelamente ao curso, desde cedo começou a realizar estágios, algo que contribuiu não só para desenvolver competências de engenharia, como para a definir melhor as suas escolhas profissionais. Após o estágio de verão na E-Redes, estagiou na UAVision, uma empresa especializada na produção de drones, onde obteve conhecimentos sobre a recolha e o armazenamento de dados e protocolos de comunicação, tanto entre diferentes componentes do sistema como entre o sistema e os sensores (por exemplo, de distância), algo que aplicou no desenvolvimento de protótipos do TLmoto.

«[Fazer parte da equipa] foi um desafio muito interessante», destaca Fábio Dias que, participou no desenvolvimento de dois protótipos, o TLM03e e o TLM04e, e foi co-líder do departamento de sistemas elétricos. Somando às hard skills, melhorou também competências de comunicação, de gestão e de planeamento, algo que realça ter contribuído para o seu percurso profissional. Por outro lado, as horas dedicadas ao projeto proporcionaram ainda o desenvolvimento de relações de amizade: «No departamento onde estou atualmente trabalho com um amigo que conheci na TLMoto, portanto penso na mota muitas vezes», refere.

Além dos amigos que conheceu através do núcleo, Fábio Dias reforça que criou também muitas amizades graças à experiência de Erasmus na Holanda. Durante o mestrado, estudou na Universidade de Delft, escolhida devido à forte aposta na investigação na área da eletrónica.

[Através da experiência em Delft], cresci como pessoa, conheci pessoas novas, tive exposição a outro tipo de culturas, fiz montes de amigos em outros países... Fazer Erasmus é uma experiência muito curta, mas bastante intensa.

Fábio Dias, alumnus de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores

Fazer Erasmus nesta universidade foi um dos objetivos que traçou logo no 1.º ano da licenciatura, tendo decidido de imediato focar-se na obtenção de bons resultados - um dos critérios de seleção na escolha de estudantes para o programa, devido ao número limitado de vagas. «Eu adorei estar em Delft e, no fundo, sempre me senti, de certa forma, mais exposto a desafios e à vida em si», destaca Fábio Dias, que, além da experiência em Delft, foi também estudante deslocado, ao longo da sua licenciatura e do mestrado. Realça que, apesar de estar relativamente longe, não tendo uma rede de apoio em Lisboa, acabou por visitar a família com frequência durante o curso, tendo sentido mais o fator da distância quando esteve na Holanda. Embora tenha tido a necessidade de se adaptar a uma nova cultura, encara a experiência como algo bastante positivo, tendo constituído uma ocasião para se conectar com outros estudantes que partilhavam a experiência de estar num país diferente do seu.

A estada em Delft possibilitou também a sua participação num projeto cujo objetivo era estimular os neurónios, através de elétrodos, de forma a criar imagens para pessoas cegas. A estimulação de neurónios é um processo rápido e que não pode ser repetido de imediato, sendo necessário deixar as células "descansar". Por este motivo, os investigadores desenvolveram um sistema que pretendia estimular outros neurónios, utilizando o mesmo circuito estimulante usado para a célula inicial. «A ideia foi tentar fazer um circuito, podemos chamar-lhe um multiplexer, que selecionasse um canal de estimulação, mas que o fizesse de forma a não prejudicar a eficiência do sistema», explica.

Foi também durante este período que Fábio Dias começou a trabalhar no PIC2, projeto de integração de curso que foi a base para a sua tese de mestrado, “Ultra-Compact Sigma-Delta Modulator for Organ-on-Chip Systems”, orientada pelos professores Jorge Fernandes e Diogo Caetano.

O meu circuito é um conversor analógico-digital, que é muito pequeno, tem baixo consumo energético e oferece uma resolução suficiente para a aplicação.

Fábio Dias, alumnus de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores

Este conversor insere-se no projeto UNLOOC, que conta com a participação do INESC-ID e do INESC-MN. O projeto tem como objetivo contribuir para o desenvolvimento de organs-on-chip - dispositivos que replicam órgãos em chip, ou seja, a uma escala tão reduzida que o sistema pode representar dois pulmões através de um dispositivo do tamanho de um cartão de crédito. Esta replicação requer o contacto com fluidos, sobre os quais é necessária a recolha de dados, como a temperatura, o pH, a deteção da existência de partículas estranhas... entre outros, através de sensores. O conversor, desenvolvido pelo alumnus, digitaliza os dados recolhidos, de forma analógica pelos diferentes sensores, disponibilizando a informação para análise, o que contribui para a tomada de decisão do sistema e viabiliza o uso deste órgãos em chip em grande escala. Trata-se do conversor com menor dimensão do seu tipo. «É a ponte entre o mundo físico e o digital», afirma.

Foi através deste trabalho que venceu a última edição do Prémio Prof. Luís Vidigal e alcançou o terceiro lugar na Master Thesis Award – Fraunhofer Portugal Challenge 2025. Além destas distinções, Fábio Dias foi também distinguido com dois diplomas de excelência, dois diplomas de mérito e uma menção honrosa, no âmbito do E.Awards 2023, algo que reflete o seu esforço durante a passagem pelo Técnico. Embora reconheça o elevado nível de exigência pessoal, que impulsiona a sua vontade de "ser melhor e fazer sempre mais", reforça que os resultados foram influenciados pelas rotinas aperfeiçoadas durante o curso: «Eu sempre fui adepto do "há tempo para tudo se nos organizarmos" e sempre fiz por isso», destaca, reforçando a importância de reservar tempo para estar com as pessoas de quem gosta, de ouvir música ou até mesmo de ver um pôr do sol, após um dia de trabalho.

Fui-me autorregulando. No 1.º ano fui adotando métodos de estudo. (...) Tem de haver um acompanhamento [da matéria], manter a rotina, ir à aulas teóricas e às de dúvidas, mesmo que estejamos cansados e com sono.

Fábio Dias, alumnus de Engenharia Eletrotécnica e de Computadores

Atualmente, trabalha na Synopsys, sendo responsável pela modelação e simulação de circuitos utilizados no empacotamento e desempacotamento de dados em canais de comunicação digital, utilizados em dispositivos móveis, por exemplo, em cabos USB. No futuro, gostaria de fazer o doutoramento e de poder exercer na área do ensino, algo que reflete o valor dado ao processo de aprendizagem, desenvolvido durante a sua jornada.

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